A manifestação #foramicarla ontem à noite me lembrou os protestos recentes e ainda vivos que estão mudando a face do Oriente Médio. E cheguei a uma conclusão: a praça Tahrir, no centro do Cairo, capital do Egito, palco da queda de Hosni Mubarak, 30 anos no poder, também é aqui. Aqui em Natal.
Qual é a semelhança? No Oriente Médio – Tunísia, Egito, Barhein, Líbia, Irã, Síria, Iêmen, entre outros paises – os manifestantes tentam derrubar ditaduras. Qual a semelhança com um protesto em Natal?
A forma. Cerca de duas mil pessoas em Natal, a maioria jovens estudantes universitários e do ensino médio, aparentemente sem atender a chamados de líderes políticos e partidários, se mobilizaram ontem pelas redes sociais e realizaram um protesto pedindo o fim da gestão da prefeita Micarla de Sousa, muito mal avaliada depois de 2 anos e cinco meses de mandato conquistado em eleições livres.
Na minha opinião, a semelhança entre protestos políticos no Oriente Médio e os que começam a acontecer aqui reside em dois fatores fundamentais: a insatisfação com o governante de plantão e o uso das mídias sociais como instrumento de mobilização política e social.
Depois dessa coisa chamada internet, ninguém quer apenas ficar vendo a banda passar. O cidadão comum quer participar, opinar, protestar, denunciar, ser ouvido, elogiar, aplaudir, vaiar, comunicar. Mais do que nunca está valendo aquela máxima do Chacrinha: quem não comunica se trumbica, meu filho!
A onda de protestos no Oriente Médio começou com um jovem feirante na Tunísia que ateou fogo ao próprio corpo para se revoltar contra decisões do governo daquele pais. As imagens foram postadas no Facebook e ganharam o mundo em outras redes sociais.
O vídeo com o protesto da professora do Rio Grande do Norte espraiou-se pelo Brasil com quase dois milhões de visitações no Youtube por causa do poder viral da internet.
O mundo mudou e muitos governantes ainda estão com a cabeça no século passado. A comunicação está fugindo do controle de estados e empresas.
Eu não tenho conhecimento de ter ocorrido em Natal um protesto, volto a dizer, aparentemente espontâneo, contra este ou aquele político no exercício de cargo público como o da prefeita Micarla de Sousa.
Lembro-me de um comício da campanha das Diretas Já na praça Gentil Ferreira em meados de 1984 – mobilização de partidos políticos como o PMDB e o PT – e dos caras-pintadas contra o Fernando Collor em 1992. Mas não me recordo de um movimento deste tipo para atacar diretamente políticos que estão no poder aqui no Estado do Rio Grande do Norte.
É uma onda que tende a crescer e preocupar os governantes. Ontem o alvo era Micarla de Sousa, mas havia quem levantasse palavras de ordem contra a governadora Rosalba Ciarlini por causa das greves que assolam o funcionalismo estadual.
Amanhã poderá ser qualquer um.
A ironia do protesto em Natal ontem é que uma jovem política como Micarla, que poderia ter adotado práticas inovadoras, modernizadoras e eficazes de gestão, seja alvo da ira e da insatisfação de uma grande parcela de jovens que mostra a cara e dá voz ao desgosto da maioria da população com a gestão municipal que aí está. Governar é coisa séria. É
coisa para profissional competente.
Fonte: http://www.nominuto.com
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