O reino de elefantina fica assim, num lugar em que o vento faz a curva ou, como dizem os mais cáusticos, onde o capiroto perdeu as botas. Lá, quem governa são os cornacas. Eles conduzem o paquidérmico reino com uma vareta que está sempre em punho, orientando o seu lento caminhar.
No inusitado reino, a vida dos elefantinos está sujeita a uma lei que se sobrepõe à vida e à morte. Todos devem obedecê-la em fila indiana, unidos por trombas e rabos. Os cornacas são de uma região feudal do reino, acostumados a guiar elefantinos de tromba a rabo, através de muito circo e pouco feno, levando-os ao delírio ufanista de pertencerem à cidade cultural de Elefantolândia.
Os elefantinos do leste rebelaram-se, torceram o rabo, bramiram, agitaram-se na defesa de condições dignas de trabalho e mais ração. Os cornacas, devido à tradição feudal, não tinham trato político com a diversidade paquidérmica, tratando-a com métodos antigos de domesticação. Achavam que a vareta era suficiente para dissuadir a insatisfação; ou que a frieza pétrea de uma lei fosse convencer toda uma geração de injustiçados.
Elefantina está em crise, carece de um gabinete político suprapartidário para dirimi-la, criar e promover recursos para o desenvolvimento social, longe da influência política da tecnocracia e dos burocratas. Acabar com as pensões inconstitucionais dos ex-cornacas, denunciar e acionar os devedores do banco de Elefantina e apurar as despesas mamuteanas dos órgãos públicos.
O reino de elefantina é muito curioso, diz cumprir a máxima do general Pompeu. Vejamos em que circunstância se tornou célebre a frase do general. Naquela época, era comum o exército vencedor ficar com o botim da guerra disputado entre a soldadesca através do duelo. Para impedir a desordem na tropa, Pompeu decretou que todo soldado que matasse outro, em disputa por botim, seria condenado à morte.
Certa vez, seu ajudante de ordem o procurou afirmando que um soldado tinha sido morto por motivo de despojos de guerra. O general foi claro:
– A lei!
O ajudante de ordem replicou:
– O assassino é seu filho.
Respondeu o general:
– Dura lex, sed lex! (a lei é dura, mas é lei!).
Os cornacas têm reserva moral em relação à essência dessa máxima universal? Ao desprezar as necessidades básicas dos elefantinos para investir no supérfluo, estão mais para Heliogábulo do que para Pompeu. Os cornacas alegam não poder atender às reivindicações trabalhistas de uma minoria de elefantinos, enquanto existe uma manada de mais pobres; são três milhões, cento e sessenta e oito mil, cento e trinta e três, para serem atendidos. Infinita a esquizofrenia do poder ao fazer distinção entre miseráveis. Todos são vítimas da exploração e opressão do Estado mínimo. É desejo dos elefantinos que os cornacas, além de parecerem, sejam honestos e populares.
Edilson Freire Maciel
Articulista
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